quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Creep Feeding: Efeito na reprodução de vacas de corte e no desempenho do peso à desmama de bezerros


Estudos realizados no Brasil têm demonstrado que o intervalo entre partos de vacas de corte é em média 20 meses, acarretando uma natalidade na ordem de 60%. Se considerarmos que há cerca de 61,4 milhões de fêmeas bovinas em idade reprodutiva (Anualpec, 2012), aproximadamente 24,5 milhões de bezerros deixam de ser produzidos anualmente.

Umas das maiores causas de baixa eficiência reprodutiva em vacas com cria é o extenso intervalo entre a parição e a primeira ovulação.

Este período é influenciado por diversos fatores, principalmente o nível nutricional pré e pós-parto, a frequência de mamadas e condição corporal ao parto e ao início do período reprodutivo, pois, o requerimento energético de uma vaca lactante dos 90 aos 180 dias pós-parto é 57% maior do que uma vaca não lactante, de acordo com os dados do NRC (1996).

A correta nutrição é de extrema importância no pré e pós-parto para o desempenho produtivo do gado de cria, pois o peso e condição corporal das vacas ao parto e/ou início do acasalamento, têm reflexos sobre o desempenho reprodutivo, principalmente no intervalo parto / primeiro cio e na porcentagem de prenhez.

A melhor condição nutricional neste período potencializa também o desempenho dos bezerros, em função da maior produção de leite das vacas.

Devido ao baixo desempenho reprodutivo das vacas de corte, associada à influência na terminação (baixo desfrute), a pecuária nacional busca alternativas de manejo visando transformar os sistemas de produção em atividades mais rentáveis.  Para atingir altos níveis de produção, três fatores são determinantes: altas porcentagens de natalidade, redução da idade ao primeiro acasalamento e redução da idade de abate.

Umas das alternativas para melhorar a condição corporal das vacas e aumentar o peso ao desmame de bezerros de corte pode ser a utilização da técnica de creep-feeding.

A importância da condição corporal das vacas, reflete-se na atividade dos ovários, umas vez que animais em melhores condições corporais possuem maior número de folículos nos ovários e maior incidência de folículos com capacidade de ocular.



 

De acordo com uma pesquisa, Moraes (2000), a incidência de manifestação de cio das vacas é afetada pela condição corporal, onde as frequências de cios observadas, 9, 60 e 80%, respectivamente para vacas em condição corporal 2,3 e 4 (escala 1 a 5).

A eficiência reprodutiva, principalmente em vacas primíparas depende da quantidade de reservas que este animal tem para voltar a ciclar em tempo hábil. Vacas com condição corporal 4 (escala 1 a 5) têm diminuído seu período de anestro pós-parto e, por consequência voltam a ciclar ainda durante a estação de acasalamento.

Com a seleção e melhoramento genético tem se produzido bezerros com alto potencial de ganho, estes fazem que suas mães apresentem maior déficit nutricional, pois mamam mais vezes ao dia, resultando em maior produção de leite das vacas. Isso ocasiona maior desgaste físico e queda na condição corporal de vacas mantidas em condições de meio desfavorável, com reflexo negativo também na fertilidade.

Portanto, as matrizes bovinas lactentes apresentam melhores índices reprodutivos (retorno precoce da atividade ovariana) quando manejadas em condições que dê suporte as suas exigências nutricionais. Com isso, a técnica do creep-feeding auxilia para melhor condição corporal da matriz, uma vez que o bezerro diminui a ingestão do leite e estímulo da mamada ao se alimentar de concentrado.

A idade recomendada para iniciar o creep-feeding está em torno das 8 semanas, aproximadamente 60 dias de idade. No entanto, algumas pesquisas indicam iniciar a suplementação em creep-feeding aos 100-120 dias de idade, devido ser o consumo de concentrado pouco significativo antes desta fase.

Avaliando o custo da suplementação e a influência da conversão alimentar do ganho de peso adicional, recomenda-se utilizar o creep-feeding com o objetivo de adicionar nutrientes à dieta dos bezerros, principalmente a fase dos 120 aos 210 dias, fase que ocorre diminuição gradativa da produção de leite das vacas e aumento das exigências nutricionais dos bezerros.

Os concentrados específicos para este tipo de suplementação, possuem normalmente os seguintes níveis de garantia: Proteína Bruta (PB): 18%; Nutrientes Digestíveis Totais (NDT): 70%; Extrato Etéreo (EE): 2,5%, constituídos à base de milho, farelo de soja, cloreto de sódio e mistura mineral.

A oferta do produto deve ser livre, e o ideal é que seja reposto diariamente, devido ser a base de grãos ricos em energia, corre o risco de perder suas qualidades nutricionais e aceitabilidade quando expostos à alta humidade, principalmente no período chuvoso do ano.

O aumento do ganho de peso diário (GPD) para bezerros consumindo concentrado no creep-feeding, normalmente é de 800 à 950 g, ganhos aproximadamente 20% superior à bezerros não condicionado à este manejo. Em vacas primíparas a diferença de ganho pode ser ainda maior.

Importante analisar a viabilidade econômica da suplementação dos bezerros com o creep-feeding, independente do manejo que serão submetidos após a desmana, sempre deve ser considerado o valor por arroba produzida.


Outro ponto a ser bem analisado e planejado, é a recria dos bezerros, quando esta acontecer no sistema de produção, pois o ganho de peso devido o creep-feeding não substitui e não compensa uma boa recria, etapa fundamental para o formação complementar dos animais.

A suplementação no creep-feeding pode criar um grupo com desempenho muito próximo, com isso pode “mascarar” alguns resultados, principalmente em rebanhos com seleção paras as características de ganho de peso ao desmame, peso ao sobreano e precocidade sexual.

Portanto, bezerros e bezerras manejados em cree-feeding, desmamam mais pesados e possuem maior potencial de abate precoce, e fêmeas que serão mantidas no rebanho para reposição, desde que bem manejadas na recria, tendem a ter a primeira concepção mais precoce devido à chegarem mais pesadas e com maior deposição de gordura na carcaça em sua primeira estação de monta, características que possuem correlação direta com precocidade sexual.




Rafael Mazão
Zootecnista – Esp. Julgamento das Raças Zebuínas
Técnico Departamento Corte – Alta Genetics
Uberaba (MG), Brasil
Janeiro, 2013



Conteúdo extraído de Alta Genetics

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